Quilombo João Surá


História do Quilombo João Surá.
Clemilda Santiago Neto
Historiadora e Especialista em Educação Patrimonial
 
Correção ortográfica e formatação Fanny Regina de Oliveira
 
  Contam os moradores que a comunidade recebeu este nome devido à existência de uma cachoeira nas proximidades - conhecida como Cachoeira João Surá. contam ainda que João Surá era um pescador que morreu neste rio, e por isso recebeu o seu nome.
O Senhor Paulo Andrade Filho, conta que os negros que ali se estabeleceram, os fundadores do quilombo, eram escravos  que fugiram de uma mina em Apiaí, e ele diz ainda que na Igreja em Iporanga, São Paulo, há inclusive o registro de quanto ouro foi retirado desta mina na época. Conta também que existe uma folha de partilha das terras datada de 1822, documento que está no cartório de imóveis na cidade de El Dourado, em São Paulo.
Um dos mais velhos diz o Antonio, líder da comunidade, era um "amansador de índios", que se utilizava de estratégias de aproximação como distribuição de doces ou instrumentos musicais para estabelecer vínculos de convivência e amizade com os indígenas que moravam na região na época.
As terras da comunidade são tituladas pelo INCRA e 16 das famílias possuem o título de posse de aproximadamente 180 alqueires de terra.
Os moradores contam que as Festas Religiosas são muito importantes nas comunidades e as mais conhecidas são a Festa de Santo Antônio e a Festa do Divino.
Para a Festa de Santo Antônio são reservados três dias, pois o pessoal começa a chegar no dia 11 de junho para os preparativos, no dia 12 fazem a novena e no dia 13 acontece a missa.
Já na Festa do Divino, que também acontece no mês de junho, as novenas são feitas de casa em casa. A Bandeira do Divino visita cada casa, "pousa" nesta casa, cujo morador oferece janta, café da manhã e almoço para os visitantes, que só irão seguir para a próxima casa após o almoço e assim sucessivamente. O momento da chegada da Bandeira é de grande festa, com foguetes e cantoria. Os foliões (pessoas que acompanham a Bandeira) chegam na casa e pedem uma oferta para que a festa continue (pode ser em dinheiro) e uma prenda, que pode ser um alimento, um animal, ou o que o morador puder dar. Os moradores pagam assim promessas pelas graças alcançadas, como a boa colheita da roça, a saúde da criação (dos animais) que foram abençoadas pelo Divino. Todas as doações arrecadadas durante as visitas são anotadas num caderninho e assim seguem duas a três canoas carregadas com as prendas. No dia da Festa do Divino há um leilão com os animais doados pela comunidade, bingo, e muita comida (porco assado, espetinho, etc.) . Toda a renda da festa vai para a Igreja.
Havia ainda na comunidade a Festa de São Gonçalo, que não tem dia marcado para acontecer, e que foi proibida pelo Padre Stanislaw. Este padre convenceu todos os moradores a fazerem um juramento, prometendo que não iriam mais fazer a festa. Contam os moradores da comunidade que uma das festas mais importantes da comunidade era a Festa de São Gonçalo, quando toda a comunidade se reunia para fazer cantoria, acompanhada pela Bandeira do Divino. Havia o "mestre", Seu José Cordeiro de Matos, o "contra-mestre", Seu Antônio Aparecido de Matos, o "guia" ou "mestre-sala" Seu Sebastião de Andrade, e ainda duas "cantadeiras" (a 1ª e 2ª voz, que ajudavam o mestre e o contra-mestre na entoada). Para acompanhar a cantoria dançando nove homens e nove mulheres - no mínimo, pois o número de pares depende da promessa feita ao Santo.
Dona Joana Pedroso, 70 anos, outra moradora do bairro, diz que ouvia sua tia contar que quando eram jovens e iam para o trabalho não tinham sapatos para por no pé. Então cortavam o couro do boi curtido no tamanho do pé, furavam e passavam tiras de couro para amarrar. Assim protegiam os pés dos espinhos na caminhada, utilizando o couro às vezes de uma forma que pareciam botas, protegendo assim todo o pé.
Dona Joana conta também histórias do seu "velho", Euclides da Rosa Pedroso. Conta que ele andava sempre perto do pai, aprendendo o serviço que este fazia e precisava caminhar pelo meio do capinzal, onde haviam muitos espinhos agulhados, que machucavam, principalmente quando estavam brotando. Então ele fazia uma proteção para o pé utilizando palha de milho, amarrada para não cair. Assim ele podia atravessar o capinzal e ir até o local onde o pai dele estava fazendo canoa.
Outra "história" de Dona Joana, diz respeito à quaresma e é uma recomendação às almas (devoção às pessoas que já morreram). Na toada fala-se de Jesus, Maria, dos inocentes (os anjos), dos monges e das almas do purgatório. É feita então uma romaria pelas almas nas casas, nas cruzes, no cemitério e na igreja (na igreja é um canto e no cemitério é outro).


Referência:

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