Geografia garante água para o futuro



Camada de rochas acima do Aquífero Guarani protege maior fonte de água da cidade e cria “fôlego” para abastecimento
Neto del Hoyo
Pesquisas desenvolvidas também pela Universidade de São Paulo (USP) concluíram que a geologia de Bauru é capaz de proteger o Aquífero Guarani, atualmente responsável por 60% do abastecimento da cidade. Se a informação já é boa, o melhor ainda está por vir: por conta especificamente da característica das rochas basálticas locais, o município terá um ‘fôlego” a mais no que diz respeito ao futuro abastecimento de água. A informação traz alento porque, sem políticas efetivas para evitar a exploração demasiada, o uso da água proveniente do Aquífero Guarani poderá gerar sérios problemas nos próximos 50 anos.

A conclusão vem de estudos realizados no “Programa Sistema Aquífero Guarani”, lançado em 2009 e que reuniu estudiosos dos quatro países que se beneficiam do manancial (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). De acordo com os especialistas, pelo menos cem cidades brasileiras abastecidas por um dos maiores reservatórios de água doce do mundo deverão lidar com a exaustão e competição demasiada pela água, como explica Ricardo Hirata, diretor do Centro de Pesquisas de Água Subterrânea do Instituto de Geociências da USP.

“Trabalhamos no sentido de que daqui a uns 50 anos, ou seja, menos de 100 anos mas bem mais do que 30 ou 40 anos, devemos vivenciar alguns problemas sérios com a exploração deste aquífero, se seguirmos nos moldes de hoje, sem planejamento. Teremos mais restrições quanto a isso, mas não significa que o Guarani vai acabar”, diz. Ainda assim, a possibilidade preocupa já que 60% do abastecimento de água de Bauru dependem da reserva (29 poços profundos), que passa debaixo de toda a extensão da cidade. Os outros 40% são atendidos pelo Rio Batalha (captação da água de superfícies).

Segundo explica o pesquisador da USP, o Aquífero Guarani é um enorme sistema hidrogeológico que corresponde a uma área de cerca de 1,1 milhão de quilômetros quadrados, sendo dividido em, pelo menos, cinco áreas. Ele está localizado principalmente na Bacia do rio Paraná (no Brasil), onde temos 62% de sua área conhecida. Sua espessura média é de 250 metros, podendo variar de 50 a 600 metros, e alcança profundidades superiores a mil metros.

“Existem áreas que vão demorar centenas de anos para começarem a ter problemas mais sérios. Porém, a área mais central, que corresponde à região de Ribeirão Preto, é mais crítica e terá alguns problemas sérios em uns 50 anos”. Hirata explica que esta área seria de grande afloramento, ou seja, onde a água do aquífero é encontrada mais próxima à superfície. “Existe ainda uma área que é bastante próxima a de afloramento; uma fase intermediária, na qual Bauru se enquadra; uma fase mais profunda, e depois outra fase que consiste na área da Argentina”, diz. Neste caso, a geologia privilegiada da cidade pode futuramente “salvar” o abastecimento de água.


“Respiro”

O pesquisador conta que o volume total de água armazenada no aquífero gira em torno de 30 mil quilômetros cúbicos, ou seja, o equivalente a 100 anos de fluxo acumulativo no rio Paraná.

O fato de se encontrar na área denominada intermediária faz de Bauru uma região privilegiada. “Nessa área podemos dizer que há muito mais água. Bauru tem uma característica que é muito própria. A população da cidade ‘pisa em cima’ de uma grande camada de basalto, uma rocha impermeável que protege o Guarani da poluição. Só que em Bauru esse basalto não é continuo, ele tem algumas falhas, alguns buracos. Por alguns motivos de topografia, na formação dessas rochas que são provenientes de lavas de vulcões, alguns buracos foram deixados. Isso permite que a água do rio Bauru passe diretamente para o Guarani e vice-versa. Hoje, as águas do Guarani é que passam para cima (chegam à superfície e se misturam com a água do rio – por conta desse fluxo, o rio tem pouca chance de contaminá-lo), mas isso com um bombeamento pode se inverter criando uma alternativa (bombeando água via rio Bauru seria possível reabastecer o Aquífero)”, explica.

Hirata comenta que essa possibilidade garante ao abastecimento da cidade uma “recarga adicional”. Porém, ao mesmo tempo em que beneficiam uma futura recarga do aquífero, as falhas nas rochas também criam pontos frágeis. “Bauru tem essa característica que em quantidade de água pode ser benéfica mas, ao mesmo tempo, esses buracos se tornam áreas de fragilidade já que colocam o aquífero em exposição junto à contaminação”.


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Qualidade comprometida?


Segundo dados do DAE, Bauru conta com 29 poços que captam água do Aquífero Guarani (o último está em fase de conclusão no Mary Dota), o que corresponde a 60% de todo o abastecimento da cidade. A degradação do Rio Batalha, que concentra os outros 40% do abastecimento, aumenta ainda mais a preocupação com as políticas de educação ambiental. Conforme apontado pelas pesquisas, a formação geológica da região auxilia na proteção do aquífero. Porém, as mesmas falhas nas rochas que podem servir como espaços explorados futuramente para uma recarga dessa fonte, também podem ser caminhos para a poluição da reserva.

“A água subterrânea é um reservatório normalmente muito mais bem protegido do que o rio e lençóis freáticos, sendo imune a diversos compostos. Porém, diferentemente dos rios, uma vez contaminado o aquífero é muito mais difícil de se descontaminar. Isso demanda mais tempo, recursos e dinheiro”, orienta Hirata.

O pesquisador explica que a contaminação do aquífero acontece devido a poluição do solo, o que deve ser controlado por meio da gestão pública. “O aquífero contamina porque a qualidade da água depende muito do que você faz sobre a terra. Então, se ao invés de um aterro sanitário bem projetado você faz um lixão, isso pode contaminar o solo. Agora, se você tiver uma boa gestão de manejo do resíduo sólido do lixo, você não vai contaminar o solo. Cabe à política de gestão controlar o que se faz no solo”.

A estimativa da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental de São Paulo (CETESB) é que o estado tenha aproximadamente de 3 a 4 mil áreas contaminadas. O último balanço apresentado pela companhia, em dezembro do ano passado, analisou 24 áreas em Bauru, sendo que oito delas foram denominadas como “contaminadas” e apenas duas como “reabilitadas”.

Conforme já foi abordado pelo JC, o tratamento de esgoto continua sendo a grande meta do atual governo. A importância do Aquífero Guarani no abastecimento de Bauru passa pelo tratamento de esgoto e conservação do meio-ambiente. “Costumo dizer que o Guarani é uma herança que nos foi entregue. Se você ‘queimar’ tudo na primeira esquina, não terá mais nada. Mas se você souber usar, terá ela para sempre”, ilustra o pesquisador.
fonte:http://www.jcnet.com.br/detalhe_geral.php?codigo=216105

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