Por uma nova geopolítica


Por uma nova geopolítica
Danos ecológicos das atividades econômicas podem definir um futuro de guerras
por Jeffrey Sachs
Toda era tem seus próprios temas dominantes de política global. O século XIX tinha a política da industrialização e do império. A primeira metade do século XX se curvou às guerras mundiais e à depressão econômica. A segunda metade foi assombrada pela Guerra Fria. A nossa era, em minha opinião, será dominada pela geopolítica da sustentabilidade.

O desenvolvimento econômico tornou-se um fenômeno global generalizado, a não ser na África subsaariana e em alguns outros pontos irredutíveis de pobreza. Mas até essas áreas empobrecidas ao extremo provavelmente conseguirão alguma melhora no desempenho econômico com ajuda internacional e a aplicação de tecnologias do tipo "melhor opção". O total geral dos resultados econômicos mundiais, a cada ano ajustado conforme diferenças no poder aquisitivo dos países e avaliado como Produto Mundial Bruto (PMB), no momento se aproxima dos US$ 60 trilhões. Ao longo do século passado, o PMB cresceu 18 vezes no que diz respeito ao ajuste de preços.

Junto com esses resultados econômicos vieram tanto benefícios fenomenais - como o aumento da expectativa média de vida e o aperfeiçoamento dos serviços de saúde pública - quanto efeitos adversos que ameaçam o planeta, como a devastação maciça das florestas tropicais, mudanças climáticas provocadas pelo homem, competição violenta sobre os limitados recursos em forma de hidrocarbonetos e o aparecimento de novas doenças como sars. Até agora, os resultados favoráveis superaram os negativos. No entanto, como muitas das conseqüências ambientais das ações humanas são escondidas do público e dos relatórios sobre rendas nacionais, permanecemos sentados sobre autênticas bombas-relógio ecológicas.

Como sociedade globalmente interconectada, a nossa se vê agora diante das seguintes realidades: todos os ecossistemas importantes, marinhos ou terrestres, estão sob intensa pressão; a economia mundial está devastando a biodiversidade da Terra, as reservas de pesca oceânica, as manchas verdes do planeta, as florestas tropicais, as reservas de gás e petróleo. Estamos alterando o clima maciça e rapidamente. Todas essas tendências estão ocorrendo num planeta de 6,5 bilhões de habitantes, com atividades econômicas já insustentáveis do modo como continuam a ser praticadas. No entanto, com os sucessos econômicos que agora impulsionam Índia e China e o contínuo crescimento da população mundial, estamos a caminho de nos tornar 9 bilhões de terráqueos, com um PMB de talvez US$ 275 trilhões, por volta da metade deste século.

Sem novas tecnologias e nova geopolítica não chegaremos lá. A escassez de hidrocarbonetos pode levar à guerra, a não ser que desenvolvamos alternativas energéticas, além de maneiras mais seguras de usar as vastas reservas de carvão que nos restam. A malsinada Guerra do Iraque conta exatamente como uma dessas disputas por petróleo, e suas conseqüências desastrosas apontam para a urgência de novas abordagens globais quanto à questão energética. Ecossistemas marinhos insubstituíveis serão destruídos, a não ser que aprendamos a desenvolver culturas aquáticas ecologicamente sadias e a desacelerar a acidificação dos oceanos promovida pelo homem. Mais furacões como o Katrina arrasarão nossas economias de base costeira, ao mesmo tempo que eventos climáticos extremos continuarão a aumentar em freqüência, intensidade e impacto humano. Mais desastres humanitários como os de Darfur, no Sudão, resultarão da escassez de água em regiões áridas.

Maiores demandas globais de produção de alimentos levarão à devastação maciça da Floresta Amazônica e de outras, a não ser que hábitos alimentares e processos agrícolas mudem drasticamente.
Nossa política global ainda não está adaptada aos desafios da sustentabilidade. As superpotências gastam muito mais à procura de vantagem militar e econômica de curto prazo do que em honrar acordos internacionais sobre biodiversidade, clima, desertificação e outras questões fundamentais que contarão muito mais para nosso bem-estar em décadas futuras. Se não enfrentarmos honestamente esses problemas, terrorismo e guerras serão coisas comuns.

O desenvolvimento é generalizado, mas a política global ainda não está adaptada aos desafios da sustentabilidade
Original da Revista Scientific American Brasil http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/por_uma_nova_geopolitica_2.html

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Lista de exercícios para oficina Juventude e Ação/ Inspetor

Questões para revisão segmento 5

TRABALHO, MASSAS E MAQUINAS / MÁQUINA HUMANO