Dios Ke Te Crew: ''O Hip Hop é umha ferramenta integral de transformaçom social''


Diário Liberdade - 050811_dktc01"Somos herdeiros dumha ditadura cultural, fomos as vitimas de um ataque brutal contra o nosso", assim começa o que se converteu para muitos num hino de geraçom. Os autores desta denúncia som os Dios Ke Te Crew, a banda de hip hop galego mais conhecida e internacional.


No incomparável espaço em que se celebra o Festival da Terra e da Língua, em julho de 2011 e protegidos da chuva sob a antuca vegetal da carvalheira que tinge de verde Moinho de Pedroso, falamos com eles sobre origem, novidades, língua e outras questons. Eis a entrevista.

Diário Liberdade – '5 Talegos', 'Ghamberros' e a seguir arribam os 'Dios Ke Te Crew'. Começamos, antes de mais, pola pergunta clássica. Quem integra a banda, em que momento aparece e com que objetivo?

Dios Ke Te Crew – A banda aparece como tal no ano 2003 e é integrada por Jamas, Sokram, Mou e García (Mc's) mais DJ Murdock. Contodo, como bem dizedes, primeiro aparecêrom '5 Talegos' e 'Ghamberros'. O primeiro germolo é pois do ano 95.

O objetivo é claro: fazermos Rap com mensagem a partir da nossa realidade.

DL – E o nome 'Dios ke te crew', de onde vem?

DKTC – É um jogo de palavras, o dios que te fijo ou que te fundou, quem seria!? O nosso foi a Cultura Hip Hop, já sabes, todas aquelas Crews de Breakdance e Graffiti, daí o nome.

DL – Já no ano 2006 lançades ao prelo 'Xénese', o primeiro disco de hip-hop editado integramente na nossa língua na Galiza. No plano lingüístico, achades que este disco tem aberto espaço a novas bandas? Como vedes o panorama do hip hop galego?

DKTC – Realmente nom inventamos nada, existia Rap em galego antes do 'Xénese' mas parece, é certo, que nom um longa duraçom. Se calhar 'Xénese' marcou um antes e um depois a nível de proposta e difusom e estamos convencidos de que animou muita gente a se posicionar lingüisticamente na hora de fazer rap nesta parte do mundo.

Quanto ao panorama, vemo-lo bem, há muita qualidade e quantidade, já nom é de agora. Temos gente bem interessante e com muitíssimo nível.

DL – Sodes, sem qualquer dúvida, a banda de hip hop galega mais conhecida dentro e fora das nossas fronteiras. Isto todo a partir de um marcado compromisso monolingue. O que tendes a dizer àquelas pessoas que, como o conselheiro de cultura Roberto Varela, afirmam sem rubor que "a cultura galega limita"?

DKTC – As limitaçons marca-as um mesmo com os seus preconceitos. Nengumha cultura limita, a nossa música em galego está rompendo o cerco, estamos a soar com normalidade em Rádio 3, estivemos tocando, por exemplo, na Havana (Cuba) e nunca sentimos limitaçom, polo contrário.

Temos umha potencialidade de cara afora. É a nossa melhor forma de estarmos no mundo a partir da nossa língua e da nossa realidade, e isso é global.

Além do mais, somos conscientes da proximidade lingüística que temos com toda a lusofonia. Portugal e o Brasil som dous dos lugares aos quais gostaríamos de chegar mais.

DL – Para além dos concertos, se calhar a parte mais conhecida dos Dios Ke Te Crew, desenvolvedes também outras atividades ligadas à cultura do hip-hop como o breakdance ou o graffiti, mas também umha funçom pedagógica que levades por escolas e liceus de todo o País. Falai-nos desta experiência.

DKTC – Desde que figemos o coletivo, tentamos valorizar todas as saídas artísticas da cultura Hip Hop e um dos objetivos é a formaçom. Atualmente desenvolvemos obradoiros, nomeadamente para adolescentes: Produçom musical informaticamente, exibiçons e ateliers de Graffiti e também um obradoiro sobre cultura Hip Hop, mais focado para o Rap.

O Hip Hop é umha ferramenta integral de transformaçom social!

050811_dktc02DL – Nos últimos tempos o hip hop, tal como outros movimentos, tem abrolhado como apenas umha tendência, aparecendo assim bandas carentes de espírito rebelde ou mensagem. Achades que é possível conceber hip hop com um prisma de nom intervençom?

DKTC – É possível, é umha opçom. Mas nós entendemos que se converte num produto vazio de sentido e preferimos basear-nos mais nas raízes deste movimento que reafirma a coletividade, a positividade e a denúncia.

DL – E já está na rua o vosso último trabalho: 'Humanose', o que nos podedes contar dele? Há mudanças significativas em relaçom aos trabalhos anteriores?

DKTC – Neste novo trabalho estamos muito contentes com a qualidade do som em geral, pensamos que houvo um salto qualitativo. Gravamos no nosso próprio estúdio (Rapapoulo Estúdio) com melhores meios e na masterizaçom optamos por enviá-lo aos estúdios Master Disk de Nova Iorque. Deste trabalho encarregou-se Tony Dawsey, um especialista em masterizar rap que se situa no máximo nível deste estilo no mundo.

Ainda, contamos com diversas colaboraçons de instrumentistas, o que é toda umha novidade a respeito do anterior trabalho: os companheiros de Machina, o Leo i Arremecághona, Loli Gómez...

Também ficamos muito contentes com Miguel de Lira, o regresso do Cabo Ameneiro! E, certamente, destacar o trabalho de ilustraçom que desenvolvérom dous galegos universais no ámbito da arte urbana, Liquen e Sekone.

DL – Acabades de assinar contrato com umha multinacional discográfica e entramos no tema dos direitos de autor. Qual a vossa postura a respeito da Sgae?

DKTC – Boa Musica nom é umha multinacional, apenas um selo independente. Ora bem, do melhorzinho no que diz respeito ao nosso estilo a nível estatal. Um dos pés de que coxeava o grupo era a distribuiçom da nossa música. Nesse senso, achamos que editarmos o nosso novo trabalho com Boa foi todo um acerto.

A nossa visom quanto aos direitos de autor continua a ser a mesma, achamos que se baseiam num modelo injusto a partir da base e optamos pola cultura livre.

DL – Caminhades rumo aos dez anos de existência com um número enorme de concertos às costas. O que destacaríades deste périplo?

DKTC – O certo é que nestes já 16 anos desde '5 Talegos' até hoje –com 'Dios Ke Te Crew' desde o ano 2003– pois provavelmente o melhor que temos, ou que conseguimos, é nom termos padrom, podemos dizer que conseguimos ter o nosso próprio estúdio de gravaçom e os nossos ritmos sem imposiçons externas. O mais importante é isso, podermos decidir por nós próprios.

DL – Obrigado polo vosso tempo e que tenhades bom concerto hoje aqui em Moinho de Pedroso no Festival da Terra e da Língua. Gostaríades de apontar mais algo para as leitoras do Diário Liberdade?

DKTC – Mais nada, só queremos agradecer o espaço e o interesse. Saúde!

http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=18194:dios-ke-te-crew-o-hip-hop-e-umha-ferramenta-integral-de-transformacom-social&catid=255:cultura-e-desportos&Itemid=131

Publicado por :

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A África enfrenta o êxodo de médicos